Formação

Falta vontade de jogar

É preciso criar "motivadores" para que as crianças permaneçam no tênis e deve-se aproveitar o "momento olímpico"


SE HÁ ALGO IMPREGNADO em todo atleta que assistimos em ação nos Jogos Olímpicos de Londres - dentro das células, correndo pelas veias, acompanhando o impulso nervoso e a contração muscular de cada gesto - esse algo é a Vontade. Sim, disciplina, coragem, garra, espírito de luta, concentração, resiliência também, mas sempre, e antes de tudo isso, a Vontade (assim mesmo, com letra maiúscula).

Na definição do substantivo masculino "vontade" do mestre Aurélio encontramos os conceitos: anseio, disposição de espírito, desejo, escolha, decisão, firmeza, empenho.

Vamos às primeiras definições: anseio e disposição de espírito. Ter vontade é, antes de qualquer coisa, atender ao chamado da alma. Desejo vem em seguida: nossa alma deseja. Deseja o quê? Algo que admira, que emociona, que encanta, que desafia.

Dentre os vários desejos possíveis, a escolha. A escolha voluntária, não imposta, fiel à razão e à intuição. Uma vez escolhido, decidimos, e é importante que sejamos firmes e nos empenhemos para conseguir. O quê? O objeto da nossa vontade.

ADMIRAÇÃO

Nossa vida - e a vida dos nossos ­ lhos - é feita de escolhas. Como escolher algo que não se admira? No caso específico do tênis, como criar pontos de admiração para que mais crianças pratiquem o esporte e queiram evoluir nele cada vez mais?

Os grandes atletas criam pontos de admiração em todos nós. Seja pela garra, pela alegria, pela superação, pela ‑ influência de movimentos, pela quebra de recordes. Assim como Guga criou um ponto de admiração e trouxe muitos brasileiros para a prática do tênis no Brasil, Usain Bolt também traz muitas crianças e jovens jamaicanos para o atletismo. Mas, uma vez no esporte, é preciso criar motivações constantes para que a Vontade possa evoluir.

Se agora o Brasil tem mais professores de tênis preparados para receber os novos praticantes e mantê-los motivados, graças aos Cursos de Capacitação da CBT e dos cursos de Extensão Universitária, esperamos que o número de quadras públicas aumente, e que a rede de competições internas - quero dizer, locais, municipais, regionais, estaduais, e nacionais - se expanda.

PRAZER OU MEDO?

Para ter "Vontade" de jogar tênis, é preciso que a experiência traga mais prazer do que medo. Para continuar evoluindo, a criança deve participar de jogos compatíveis com seu nível de habilidade, sentindo que está participando de uma grande aventura. E as aulas devem trazer desafios constantes e diferentes, para mantê-la interessada. Ah, e o grupo de amigos que faz no tênis conta muito, por isso a importância do processo coletivo.

Então, adultos envolvidos com tênis, seja como pais, professores e dirigentes, uni-vos! O futuro do esporte está em nossas mãos. Pensemos no desenvolvimento do tênis em longo prazo; pensemos localmente para resultados globais. Cada iniciativa local é muito importante, seja criando uma tarde de demonstração do jogo em um shopping, seja realizando torneios dentro da própria escola ou academia de tênis.

Quando começam os jogos fora do clube, escola ou academia, os pais precisam curtir esses momentos de acompanhar seus ­ lhos aos torneios. Acompanhar os ­ lhos pode significar: maior intimidade com eles, novas amizades com os pais de outros jogadores e pequenas viagens de final de semana para quebrar a rotina do trabalho. Há muitos aspectos positivos a destacar.

No processo de ensino de tênis, sejamos criativos, professores! Nenhuma criança vai continuar nas suas aulas se não tiver desafios novos e constantes. Não precisa gastar muito dinheiro com equipamentos importados: qualquer loja de R$ 1,99 tem objetos plásticos incríveis e coloridos (os famosos "alvos") para deixar qualquer aula mais interessante. É preciso gastar mais tempo usando o cérebro para planejar cada ciclo evolutivo.

Ao gerarmos uma rede de apoio mútuo ao tênis infantil e infanto-juvenil, poderemos manter acesa a chama da Vontade em nossas crianças. Caso contrário, perderemos a batalha facilmente para os jogos eletrônicos, baladas e fast-food.

Suzana Silva

Publicado em 20 de Agosto de 2012 às 14:35


Preparação Física/Fisioterapia

Artigo publicado nesta revista