Instrução Mental

Domando o imprevisível

Como lidar com situações inesperadas durante um treino ou uma partida de tênis?


POR DEFINIÇÃO, as situações inesperadas são aquelas em que não existe uma preparação para vivenciá-las. Elas surgem como uma surpresa ou como um acontecimento pouco provável, sem passado, presente ou futuro, ou seja, algo sem temporalidade cronológica.

De outra forma, podemos pensar que uma situação inesperada é um acidente, quase sempre indesejável, que pode causar danos pessoais, materiais, financeiros, e que ocorre de modo não intencional.

Especificamente no tênis, como pensar as situações inesperadas? Que situações seriam essas? Não vamos nos ater a jogadas inesperadas que justamente fazem do tênis um dos esportes mais inteligentes,  surpreendentes e geniais que existe. Vamos pensar em algumas situações que dizem respeito aos aspectos intrínsecos do tenista e do jogo.

Tomemos como exemplos:

  • Você entra em quadra com duas raquetes e as cordas de ambas se quebram;
  • Você entra em quadra com o tempo bom e, de repente, começa a ventar;
  • Você tem sua partida interrompida pela chuva;
  • Você se machuca durante a partida.

Material

Essas situações apontam para três diferentes aspectos. O primeiro diz respeito ao material utilizado. As cordas se quebraram. O jogador sabia que isso poderia acontecer? As cordas eram novas? Ambas já tinham sido usadas? É básico que o tenista conheça o material que usa. Ele é responsável por arrumar o material necessário para o treino ou o jogo. Isso faz parte da disciplina e responsabilidade do atleta com relação ao seu objetivo no tênis. Se as raquetes já tinham sido usadas, ele deveria saber que corria o risco disso acontecer. Mas, se as cordas eram novas e estouraram, foi um evento inesperado, um acidente. Que possibilidades ele teria para lidar com esse acontecimento?

  • Pedir uma raquete emprestada e continuar o jogo se lembrando do que aconteceu e, reclamando o tempo inteiro;
  • Pedir uma raquete emprestada, tentar se adaptar e continuar o jogo fazendo o melhor possível;
  • Desistir da partida.

O que pode ser feito para ajudar no caso de um acontecimento inesperado como esse? Existe algum treino mental a esse respeito? Sim. Podemos, durante um treino, trabalhar com situações de frustração que criem dificuldades para o atleta. São simulações que visam fortalecer o atleta para situações futuras. Então, por exemplo, no meio de um jogo-treino, tiramos a raquete que o atleta está acostumado a jogar, e o fazemos jogar com outra. Podemos fazer isso, estando o placar favorável ou não a ele. É óbvio que, para um tenista profissional, essa situação não acontece. Mas, com tenistas infantojuvenis, são situações prováveis.

É possível treinar para estar melhor preparado para situações inesperadas

O tempo

O segundo e o terceiro aspectos apontam para a mudança do tempo durante uma partida. Essa situação é bastante comum e o tenista pode lidar com isso de diferentes maneiras:

  • Ficar incomodado, começar a reclamar e, consequentemente, a errar e perder pontos durante a partida;
  • Identificar se o vento está “a favor ou contra” e, desta forma, adaptar sua força e seu controle dos golpes, de maneira a favorecê-lo;
  • Pensar que o vento e a chuva vieram para ele perder a partida;
  • Pensar que o vento e a chuva podem ser aliados para que ele vença a partida;
  • Pensar que o vento e a chuva também estão afetando o seu adversário. Então, tentar tirar vantagem disso, concentrando-se e fazendo o melhor possível.

A mudança de clima é um fator externo que, hoje em dia, até é possível prever, mas não dá exatamente para saber quando vai acontecer. Temos, então, variáveis que fogem ao domínio do jogador. Mas, da mesma forma, pode-se, com treinamento, aprender a lidar melhor com o fato. O tenista deve ter conhecimento a respeito da situação do vento durante treinos realizados em condições semelhantes, assim como deve saber utilizar a técnica de visualização e mentalização positiva diante de interrupções do jogo por motivo de chuva. Isso é feito através de um treinamento específico com o psicólogo do esporte.  Essas interrupções devem ser vistas como possibilidades de repensar os vários momentos da partida, interferindo no seu resultado final.

Físico

O quarto aspecto fala de um acidente físico: o atleta que se machuca durante o jogo. Esse fato é muito comum. No entanto, temos que avaliar a extensão do problema. Foi uma lesão leve que, após um breve atendimento médico em quadra, permite a continuação da partida? Vamos pensar apenas nessa possibilidade, porque uma lesão grave implicaria na desistência. Então, quais as variáveis para esse jogador que, mesmo lesionado, continua jogando?

  • Sentir-se seguro com a avaliação médica e continuar jogando como se nada tivesse acontecido;
  • Ficar em dúvida com relação à avaliação médica e ficar inseguro para se movimentar e realizar os fundamentos;
  • Não acreditar na avaliação médica, jogar como se nada tivesse acontecido e, games depois, sentir dores novamente, entregando a partida;
  • Apesar de acreditar na avaliação médica, ficar com medo e entregar a partida.

Esse é o aspecto mais importante e delicado de se tratar. Sabemos que todo atleta corre o risco de se lesionar em algum momento, estando ele bem condicionado fisicamente ou não. É um acidente. Mas, vamos considerar que a lesão, a princípio, não é grave. Como superar a dor e continuar a jogar? Sabemos que o atleta de alto rendimento está acostumado a lidar com as dores musculares, com bolhas nas mãos e nos pés, com entorses leves e outros tipos de lesão. Como ele faz para conseguir tal proeza? O fator mais importante é o foco, a determinação e a perseverança. Isso faz parte da personalidade, mas também pode ser desenvolvido (existem, por exemplo, as técnicas psicofisiológicas de biofeedback e de neurofeedback que trabalham com o limiar de dor). As possibilidades citadas mostram formas diferentes de lidar com a lesão. Há casos em que devemos colocar limite no atleta para que uma pequena lesão não se transforme num problema mais sério e que o impossibilite de jogar.

Lições

As situações inesperadas existirão sempre. Elas são a nossa própria vida. Cada dia é um dia e, para certas coisas, não existe treinamento, prevenção ou controle. Simplesmente viva o momento e tente tirar o melhor proveito. O tênis é um esporte fantástico que nos ensina, em quadra, a viver coisas da vida. Aproveite as oportunidades e as situações inesperadas que poderão surgir, porque, com certeza, elas darão subsídios para viver melhor e poderão ser lições de vida.

Por Roberta Menezes

Publicado em 25 de Novembro de 2013 às 00:00


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Artigo publicado nesta revista