Bela guerreira

Por trás do belo rosto e do delicado sorriso, Maria Sharapova traz consigo uma história de luta e superação rumo ao topo do tênis mundial


MESMO quem não entende nada de tênis, mesmo quem nunca viu sequer uma partida na vida, quando perguntado sobre se conhece alguma tenista, responderá - na maioria das vezes: Maria Sharapova. A mística em torno dessa jovem vai além das páginas de esporte e atrai os olhares do mundo todo. Maria Sharapova é literalmente um mulherão. 1,88 m, corpo de atleta, belas curvas, longas pernas. Seu rosto, porém, ainda é de menina. Pele clara, delicada, olhar inocente, sorriso singelo. Com apenas 22 anos, porém, já viveu experiências válidas por toda uma vida, coisas que dificilmente uma garota "normal" de sua idade costuma passar. Quem olha hoje para o seu sucesso - seus belos ensaios sensuais, suas constantes aparições em listas dos mais ricos atletas, seus altos contratos publicitários, suas visitas às mais caras lojas de jóias do mundo, seu rosto estampados em gigantescos outdoors por diversos países - tende a fantasiar uma vida fácil para a bela russa. Mas poucos sabem o que se passou nestes 22 anos da vida de uma das maiores estrelas da história do esporte mundial. Antes mesmo de vir ao mundo, Maria já poderia ter muita história para contar. Sua família, os Sharapov, foi obrigada a deixar a cidade de Gomel - hoje pertencente à Bielorússia - após o trágico acidente nuclear de Chernobyl, em 1986. Um ano depois, nascia a pequena Maria, filha do dedicado casal Yuri e Yelena.

Aos quatro anos, assistindo às raquetadas do pai, a pequena loirinha começava a sua trajetória no tênis. Passaram-se dois anos e ela já mostrava todo o seu talento. Em outubro 1993, um encontro inesperado viria a confirmar as suas qualidades. Maria e Yuri haviam sido convidados para participar de uma clínica de tênis para as crianças no torneio de Moscou (a tradicional Kremlin Cup), e a pequena aspirante a tenista teve a chance de bater algumas bolinhas com a então top 5 Martina Navratilova - que já trazia consigo uma das mais vitoriosas carreiras de uma atleta na história do tênis. Impressionada, a tcheca naturalizada norte-americana fez questão de parabenizar Yuri pela filha: "Ela tem talento!".

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NOS STATES

Assim, o paizão coruja logo se animou e viu a necessidade de entregar todo esse potencial às mãos de um profissional renomado do esporte. O destino? A requisitada e popular academia de Nick Bollettieri nos Estados Unidos. Em março de 1995, pai e filha embarcaram em um avião com destino ao país norte-americano, deixando Yelena, a mãe, na Rússia para terminar os estudos e conseguir um visto. Sem falar inglês e com 700 dólares no bolso (dinheiro batalhado junto aos avós de Maria), Yuri - com a cara e a coragem, como se diz - bateu nas portas da famosa academia.

Os treinadores, claro, logo reconheceram o talento da menina, mas afirmaram que ela era muito nova para se tornar uma "full-time student", como chamam. Ou seja, Maria não poderia ganhar uma bolsa de estudos e morar na academia. Mas Yuri estava obstinado, sabia que o talento da filha não poderia ser desperdiçado. Assim, passou a morar nos Estados Unidos, realizar "bicos" em diversas áreas e treinar a promissora menina em quadras públicas e parques. Enquanto isso, ela começava a se destacar nos torneios locais. Foram alguns meses de muito sacrifício, que apenas em dezembro viria a ser recompensado. Impressionados com as esporádicas aparições da menina, os técnicos da academia finalmente lhe ofereceram a tão sonhada bolsa, e daí em diante seu talento passou a ser cada vez mais explorado. Em junho de 2006, outra grande vitória, e Yelena - agora com o visto regularizado - pôde se juntar à família após mais de um ano.

TALE NTO CONFIRMADO

Se seu tênis evoluía a passos largos, sua beleza não ficava muito atrás. Ainda adolescente, já chamava a atenção de quem vivia os bastidores do tênis. Sabiam estar diante de um modelo perfeito de estrela, a "galinha dos olhos de ouro" de Bollettieri. E o investimento na menina já começaria a ter retorno em 2000, quando, com apenas 13 anos, ela venceu a chave dos 16 anos do importante torneio juvenil Eddie Herr Championships, disputado justamente na academia do treinador norte-americano.

Daí em diante o sucesso da jovem russa foi meteórico, e culminou com o surpreendente título de Wimbledon em 2004. Ainda com seus 16 anos, já estava erguendo o mais desejado dos troféus do tênis mundial, após arrasar a bicampeã Serena Williams na final. Era então a pior tenista classificada (15ª do mundo) a vencer o Grand Slam inglês em toda a Era Aberta, feito que viria a ser superado posteriormente, por duas vezes, por Venus Williams. Era também a quarta tenista mais nova a vencer um Grand Slam, ficando atrás apenas de Martina Hingis, Monica Seles e Tracy Austin.

No ano seguinte, a grande consagração, e Sharapova se tornava a 16ª mulher a chegar ao topo do ranking mundial. A primeira russa, diga-se de passagem, confirmando ainda mais a sua idolatria no frio país europeu. Mas Maria sempre esteve muito ligada aos Estados Unidos. Foi lá que praticamente viveu a sua infância, que viu seu talento aflorar. E foi justamente ali que veio a ganhar seu segundo Grand Slam, com o título do US Open em 2006 - vencendo a número um do mundo (Lindsay Davenport) na semifinal e a número dois (Justine Henin) na decisão.

VENCENDO A BELEZA

Em 2007, porém, um problema no ombro direito começava a atrapalhar a sua ascensão. Ao mesmo tempo, seu belo rosto era visto com cada vez mais frequência nas capas das principais revistas do planeta. A carreira como modelo, endossada pelo milionário contrato firmado com a poderosa IMG Models quatro anos antes, começava a dividir os escassos espaços de sua agenda com os compromissos como tenista. Ela se tornava o novo sinônimo de beleza no tênis e fora dele também - sempre com destaque no mundo da moda. Estaria Sharapova começando a seguir o mesmo caminho de sua igualmente bela compatriota Anna Kournikova?

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A resposta veio em janeiro de 2008, com o terceiro título de Grand Slam, conquistado no Aberto da Austrália. Em uma final histórica - não tanto pela qualidade, mas, principalmente, pela beleza e carisma das adversárias -, a russa venceu o duelo de musas contra Ana Ivanovic e deu a impressão de que uma temporada vitoriosa viria pela frente. Até a chegada de Roland Garros, haviam sido 27 vitórias contra apenas duas derrotas no ano, com três títulos conquistados. Porém, aquele mesmo ombro que já havia a incomodado no ano anterior chegou ao seu limite. Em Montreal, em uma última tentativa de lidar com as dores, teve que abandonar a partida de oitavas-de-final contra a japonesa Ai Sugiyama. Era a última partida de Sharapova no ano.

Após uma operação e oito meses longe das quadras, enfim a musa estava de volta. Para a alegria dos amantes de tênis em todo mundo, principalmente o público masculino, claro. Definitivamente, o circuito não tinha a mesma graça sem os altíssimos gemidos (causadores de grandes polêmicas com as rivais) de Maria dentro das quadras. Ainda mais em um período onde a modalidade se sentia órfã da belga Justine Henin, que quase ao mesmo tempo em que Sharapova deixava temporariamente as quadras anunciava a sua precoce e inesperada aposentadoria. A posição de número um do mundo, que Henin havia deixado de bandeja para Sharapova em 2008, não tinha mais dona. Ana Ivanovic, Jelena Jankovic, Dinara Safina, Serena Williams. Todas se alternavam, e continuam se alternando, no topo do ranking mundial.

DE VOLTA

No entanto, em Varsóvia, palco de sua volta em 2009, Sharapova mostrava que estava bem novamente. Surpreendendo a todos, voltou apresentando traços do tênis que a consagrou e alcançou as quartas-de-final. Mesma fase que atingiu em Roland Garros, mesmo jogando no piso que sempre obteve os piores resultados. Em Wimbledon, seu palco preferido, tinha tudo para encantar novamente o púbico inglês, mas encontrou uma inspirada Gisela Dulko no meio do caminho, ainda na segunda rodada. Aos poucos, esta verdadeira deusa das quadras vem readquirindo a sua melhor forma e voltando a jogar aquele potente tênis que encantou o mundo nos últimos anos. Em Tóquio, há algumas semanas, levantou um troféu após mais de um ano, e mostrou às adversárias que, em 2010, a briga pelo topo do ranking deve ganhar mais uma fortíssima concorrente.

Ah, sim! Será que Gisela Dulko, aquela que freou sua luta pelo bi em Wimbledon, ainda está entalada em sua garganta? Isso Sharapova mostrará em dezembro, para nossa sorte, no Brasil. Os felizardos que tiverem a chance de ver de perto duas das mais belas tenistas do circuito - duas loiras que fazem jus ao rótulo de musas - certamente poderão ver não só um show de tênis, mas também uma doce revanche entre duas graciosas competidoras.

Maria Sharapova

NASCIMENTO
19 de abril de 1987 Nyagan, Rússia

TÍTULOS
23 (20 de simples e 3 de duplas)

PREMIAÇÃO
$13,030,675

ALTURA E PESO
1,88m e 59 kg

MELHOR RANKI NG
1ª simples (22/08/05)
41ª duplas (14/06/04)

Profissional desde 2001

José Eduardo Aguiar

Publicado em 10 de Novembro de 2009 às 15:20


Perfil/Entrevista

Artigo publicado nesta revista