Instrução Técnica

Backhand na paralela, a arma de Djokovic

Um dos golpes mais cruciais do tênis, o backhand na paralela é dos trunfos de Novak Djokovic


Foto: Ben Solomon/Tennis Australia

Há poucas sensações mais gostosas no tênis do que bater aquele backhand paralelo sem chances para o adversário. Você está naquela troca de bolas cruzadas, seu rival insiste cada vez mais com bolas anguladas, de repente, você percebe a oportunidade, arma a batida, muda de direção e acerta uma paralela que pode tanto vir a ser um winner quanto uma bola na qual seu oponente vai chegar desequilibrado, dando-lhe a oportunidade de tomar o controle do ponto.

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O backhand na paralela é um dos golpes mais cruciais do tênis, pois rompe com um padrão de jogo no intuito de atacar a movimentação do adversário. Portanto, quem não tem confiança para executá-lo nos momentos certos, terá muita dificuldade para ser agressivo e vencer pontos importantes.

Vamos lembrar que foi graças a esse golpe que Gustavo Kuerten conseguiu revolucionar o jogo no saibro. O backhand na paralela de Guga se tornou sua marca registrada. Quando os rivais achavam que, ao jogar na sua esquerda podiam controlar o ponto ou ao menos impedir que ele os atacasse, o brasileiro surpreendia mudando a direção da bola para a paralela com uma técnica fenomenal.

Hoje, porém, o mestre na arte do backhand paralelo é Novak Djokovic. Aliás, é devido a sua excelência na execução desse golpe que ele é capaz de suplantar os oponentes mais perigosos do circuito, incluindo seu principal rival, Rafael Nadal. O sérvio poderia até dizer que o backhand na paralela tem sido sua grande arma nos últimos quatro anos, uma das razões para ele ser número 1 do mundo e ter vencido seis Grand Slams nesse período.

Djoko é um dos poucos tenistas capazes de neutralizar a poderosa canhota de Nadal. Sem esquecer do excelente preparo físico, da força mental e do planejamento tático, o sérvio consegue anular o jogo do espanhol – que gosta de cruzar bolas de seu forehand para o backhand dos adversários – surpreendendo-o com belíssimas paralelas de esquerda. Djokovic é um dos poucos no circuito atualmente que consegue segurar as pesadas batidas de forehand de Nadal com seu backhand sem medo. Mais do que isso, ao contra-atacar na paralela, ele agride o backhand do espanhol, um ponto mais vulnerável de seu jogo.

Quando e como?

Ao ver os melhores tenistas do mundo desferindo seus lindos backhands paralelos, você pode até acreditar que é um golpe de execução simples. No entanto, essa é uma batida das mais complicadas, pois requer uma boa técnica, além de um bom planejamento.

Confira aqui a técnica de Djokovic em dois momentos. No primeiro, em uma bola mais curta. No segundo, em uma batida na corrida.

1. Djokovic tem o ponto sob controle. A bola do oponente está curta e ele entra na quadra para atacar. É a sua chance. Em uma posição clássica, ele dá o ombro para a bola, com apoio fechado – um pé à frente do outro –, posição perfeita para quando se tem tempo suficiente para golpear a bola. 2. Com tempo, ele faz uma preparação ampla, com a cabeça da raquete começando alta e depois baixando para subir novamente e gerar topspin. Ele apoia firme o pé direito no chão e começa a transferir o peso do corpo. Habilidoso, ele é capaz de mudar a direção da bola somente com um movimento de pulso. 3. O sérvio se antecipa o máximo que pode, pegando a bola na subida, bem alta, transferindo totalmente o peso do corpo para a jogada. Ele mantém os braços relativamente perto do corpo, controlando o golpe. Seu alvo é a paralela, uma de suas jogadas preferidas e que mais incomoda os adversários. 4. Djokovic faz uma terminação ampla, acima da cabeça, e continua o movimento para a frente na inércia que foi criada (a perna esquerda vai para trás). Ele sabe que o backhand paralelo é uma de suas principais armas e, caso não finalize o ponto com um winner, poderá terminar com um voleio.

A primeira coisa que você precisa saber antes de tentar um backhand na paralela é que a rede é cerca de 16 centímetros mais alta nas extremidades do que no centro. Talvez seja por isso que suas tentativas sempre param na rede? Outro detalhe importante é que, ao mirar na paralela, sua bola também terá menos distância para percorrer (as cruzadas têm 1,38m a mais do espaço). Será por isso que seus golpes sempre saem no fundo? Ou seja, você vai precisar colocar um pouco mais de topspin na bola, fazendo-a passar mais alta sobre a rede, mas também “caindo” mais rápido do outro lado para ela não sair na profundidade.

1. Djokovic está sendo dominado, ele foi deslocado no ponto e tem poucas alternativas. Ele então escolhe ir para o backhand na paralela, um golpe arriscado. 2. Para isso, ele faz uma preparação bastante curta, em um movimento como se desse um tapa na bola, literalmente atirando-se sobre ela. 3. Ele começa sobre o pé de apoio na esquerda e termina como num salto sobre o outro. Com isso, ele mantém a raquete perto do corpo, o que ajuda a controlar o golpe. 4. Ele aterrissa sobre o pé direito sabendo que é um golpe de “tudo ou nada” e que provavelmente não terá tempo de recuperar sua posição caso o adversário alcance a bola.

Outro problema a ser contornado é o fato de ter de mudar a bola de direção. Trocar bolas em uma única direção é muito mais fácil do que ficar alternando. Toda mudança é um risco, especialmente em alta velocidade. Para mudar a direção, geralmente você vai precisar “atrasar” um pouco o golpe, deixando a bola entrar mais dentro do corpo. Se atrasar muito, ela sairá na lateral.

Com a técnica aprumada, é preciso pensar no momento exato de executar esse backhand paralelo. Você pode até se imaginar um dos tops quando acerta aquele winner lindo depois de uma troca de bolas cruzadas muito velozes, mas, na maioria das vezes, esse acerto pode ter sido sorte. É muito mais fácil e prudente mudar a direção quando uma bola do adversário encurta um pouco ou fica mais lenta. De qualquer forma, o backhand paralelo pode ser o “último recurso” quando você está completamente dominado, tendo que bater na corrida. Mas, lembre-se, essa é uma das jogadas mais difíceis de executar. Porém, vale lembrar que este é um golpe de ataque, não de defesa, ou seja, é sempre arriscado.

Por Arnaldo Grizzo

Publicado em 12 de Dezembro de 2014 às 00:00


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