Parceria tecnológica

Avaliamos as ‘raquetes inteligentes’

Descubra as funcionalidades e o desempenho dos sensores de golpes


Há dois anos, quando as primeiras “raquetes inteligentes” surgiram no mercado, o alarde foi grande. “Revolucionário”, “o jogo nunca mais será o mesmo” e outras tantas frases de efeito foram ditas por gente de dentro e de fora da indústria de raquetes. Agora, passado esse primeiro momento de deslumbre diante de uma nova tecnologia, é possível dizer que ela transformou ou transformará o tênis?

Potencial para isso certamente há. Cada vez mais vemos tenistas usando tecnologias de análise de desempenho em seus treinamentos para melhorar a performance, portanto, um sistema que avalia os golpes em tempo real certamente traz um benefício. No entanto, todos sabem que não adianta apenas termos acesso a uma coleção de dados, é preciso saber analisá-los.

Apesar de serem muito mais comuns na Europa e nos Estados Unidos do que no Brasil, as raquetes com sensores parecem ainda não terem virado uma febre como se poderia prever no lançamento. O número de usuários vem crescendo aos poucos e, especialmente no Brasil, é bastante raro ver alguém usando uma, também devido ao fato de elas terem chegado ao mercado há pouco tempo e, além disso, o aparelho acoplado ao cabo ainda não estar sendo comercializado aqui pelo fabricante.

Contudo, resolvemos colocar à prova esse novo sistema de raquetes inteligentes e revelar se ele pode mesmo ajudar a melhorar o seu jogo e como. Tivemos acesso às novas raquetes da Wilson (usamos o modelo Burn FST 99 para este teste), que já vêm preparadas para receber o aparelho Sony Smart Sensor. Confira a avaliação detalhada.

Primeiros passos - Não desista

Antes mesmo de pensar em adquirir um sensor para a sua raquete, primeiro é preciso ver se ela foi feita para recebê-lo. Nos últimos dois anos, as marcas Wilson, Head, Prince e Yonex produziram modelos em que o aparelhinho Sony Smart Sensor pode ser acoplado à base do cabo. Não adianta tentar colocá-lo em raquetes “comuns”. Em seus sites, as marcas apontam quais modelos estão adaptados e, em muitos casos, há essa informação na própria raquete.

Outro detalhe importante antes de partir para essa empreitada é saber que você já encontra no Brasil essas raquetes inteligentes, já adaptadas ao sensor, porém, o Sony Smart Sensor não é vendido no país. Você só o encontrará nos Estados Unidos e na Europa. Ele custa US$ 200 e você ainda precisará comprar um acessório que serve de plugue no cabo da raquete, por US$ 10.

Raquete e sensor preparados? Há mais um detalhezinho um pouco incômodo, mas relativamente fácil de resolver, antes de começar a usar: a Sony só disponibiliza o aplicativo que recebe as informações do sensor no smartphone ou tablet para usuários que possuem contas nos Estados Unidos e alguns países da Europa e Ásia. Mas não se desespere e nem perca as esperanças diante dessa pequena dificuldade. Se você tem um iPhone, por exemplo, pode criar uma nova conta na AppStore com um endereço nos Estados Unidos. Feito isso, você faz download do aplicativo de graça. Ele também está disponível para Android.

Ajustes

Raquete preparada, sensor comprado, aplicativo instalado no celular, é hora de fazer os “settings”. Assim que você acessa o aplicativo pela primeira vez, a Sony pede que se crie uma conta com seus dados. Você também vai precisar detalhar qual a marca e o modelo de raquete está usando (isso pode ser alterado caso você troque de raquete) e poderá colocar informações sobre si mesmo, ajustar as configurações etc. Assim como também será preciso emparelhar o sensor com o smartphone. Mas nada muito complexo.

O próprio aplicativo mostra como fazer esse emparelhamento, diz como ligar e desligar o sensor e o que significa cada uma das luzes piscantes – e o que quer dizer cada sequência de piscadas. Entendido isso, já podemos ir para a quadra e experimentar essa nova era das raquetes inteligentes.

Em sua tela inicial, o aplicativo do Smart Tennis Sensor apresenta dois modos de “visualizar” os seus golpes. Um deles é através de vídeo e o outro apenas capta as informações das batidas mostrando cada uma delas em tempo real na tela. Mas, caso você tenha esquecido o celular em casa ou ele esteja sem bateria, basta apenas ligar o sensor que ele arquivará os golpes em sua própria memória e você poderá baixar os dados mais tarde.

Segundo a Sony, a bateria do sensor dura até 3 horas (quando não está emparelhado ao smartphone) e a memória do aparelho pode armazenar dados de até 12 mil golpes. Em uma sessão bastante intensa de treino, que durou 40 minutos, anotamos 402 golpes, ou seja, não é preciso se preocupar com a memória do sensor. No entanto, se você não desligar o aparelho ou deixá-lo conectado por Bluetooth mesmo quando não estiver usando, o consumo da bateria pode ser mais rápido do que você imagina e acabar no meio de um treino ou jogo sem que você perceba. Portanto, recomendamos levar o aparelho carregado sempre.

Outro detalhe para ficar atento é com a distância do smartphone até o sensor. Como ele se conecta por Bluetooth, caso esteja muito longe, as batidas podem não ser marcadas em tempo real na tela do seu celular. Mas, ainda assim, não se preocupe, pois, como foi dito, quando ligado, o sensor estará “gravando” todos os dados internamente. Basta acessá-los depois.

Primeiras impressões

Ver aquele botão vermelho na base do cabo da raquete pode suscitar algumas questões sobre manuseio, todavia, a não ser que você segure a raquete com os dedos para baixo do cabo – o que seria quase incompreensível, pois, por mais baixa que seja a sua pegada, ainda é preciso manter a mão na raquete –, o aparelho não vai afetar em nada a sua empunhadura. Além disso, o peso é de aproximadamente oito gramas, o que tampouco vai influenciar muito.

Mas como o sensor saberá se estou batendo um forehand ou um backhand? Um voleio ou um golpe de fundo? Um saque ou um smash? E se eu for canhoto, ele vai reconhecer os meus golpes ou vai “trocá-los” todos? Todas essas questões e outras mais logo surgem, porém são dirimidas nas primeiras batidas e com o surgimento dos primeiros dados na tela.

Sim, a tecnologia foi feita para fazer esse reconhecimento dos golpes. Essa análise é feita por sensores colocados ao longo de toda a raquete e que, dependendo de como eles são afetados, trazem uma resposta mostrando exatamente o que foi a sua batida. E tanto destros quanto canhotos podem ficar tranquilos, pois ele consegue distinguir entre vocês.

Mas, sim, o sensor ainda não é 100% perfeito. Em alguns momentos ele se confunde e reconhece um smash como sendo um saque, um ou outro forehand também pode ser confundido com um backhand e vice-versa, porém, esses erros são marginais e comprometem pouco. No mais, ele é bastante exato.

Análise de golpes

O Smart Tennis Sensor analisa três variáveis dos golpes: o efeito imposto na bola, a velocidade do swing (da batida) e a velocidade da bola. Ele é capaz de reconhecer oito tipos de batidas: forehand com topspin, forehand com slice, backhand com topspin, backhand com slice, voleio de forehand, voleio de backhand, saque e smash (estes dois últimos são os que causam mais confusão no sensor).

Para calcular o efeito, a Sony criou uma escala que vai de +10 a -10, sendo que todo golpe que gerar um número positivo tem efeito topspin e, quando o número for negativo, o efeito é slice. E, quanto mais alto for esse número, mais efeito foi gerado, quanto mais baixo, mais chapado foi o golpe. As velocidades da bola e do swing são medidas em quilômetros por hora.

Outro dado importante fornecido pelo aparelho é o ponto de contato da bola com as cordas. Depois de uma sessão de treinos, por exemplo, as áreas mais atingidas na raquete estarão com cores vermelhas mais intensas.

Em um primeiro momento, você pode até ficar um pouco perdido, pois são vários os dados que pipocam na tela e logo vão se acumulando sem que você entenda muita coisa do que está acontecendo. É preciso calma para fazer uma boa análise e entender como esse aplicativo pode ajudar a melhorar o seu jogo ou, melhor ainda, o seu treino.

Funcionalidades

Apesar de o sensor guardar dados dos seus golpes mesmo quando você está sem o celular por perto, a funcionalidade mais interessante é a da visualização e análise dos golpes em vídeo. “Legal, mas, poxa, sempre que treinar ou jogar terei de pedir para alguém, por favor, que fique gravando?”. Use a imaginação. Hoje há minitripés para smartphones e tablets, mas você também pode pegar uma cadeira e improvisar um apoio do lado da quadra. E, convenhamos, dependendo do tipo de treino, seu professor pode muito bem ficar gravando seus movimentos para ele mesmo depois poder ver e analisar os seus golpes com ajuda do aplicativo. Um detalhe: lembre-se de conferir se seu smartphone tem memória livre o suficiente para uma gravação longa.

Outro ponto interessante é que você pode fazer marcações nas sessões de treino, por exemplo, para criar pontos de interesse (golpes específicos que quer analisar) e acessá-los mais rapidamente. E, ao mesmo tempo que você tem a possibilidade de visualizar toda uma sessão, em seu período de tempo completo, também pode delimitar esse tempo, visualizando, por exemplo, apenas as batidas realizadas em 30, 10, 5, 3 ou 1 minuto de treino, ou mesmo em apenas 30 segundos. Você sabe quantos golpes realiza em 30 segundos em um bate-bola? Nós chegamos a fazer nove batidas em intensidade moderada, ou seja, uma batida a cada três segundos.

Mas, enfim, mais do que descobrir essas coisas, que podem até parecer bobagens, há uma série de dados que podem ser analisados e, como dito anteriormente, é preciso paciência e bom senso para poder identificar, nesse mar de dados, o que realmente é relevante para o seu jogo. Portanto, nesse ponto, a funcionalidade do vídeo parece ser mesmo a mais interessante, pois alia os dados numéricos (efeito e velocidades de swing e bola) com os visuais (todo o seu movimento de batida mais a identificação do ponto de contato), dando uma maior clareza para qualquer tipo de análise.

Para facilitar, cada tipo de golpe é mostrado numa barra de tempo por uma cor para facilitar a identificação. Os forehands com topspin, por exemplo, são laranjas; os saques são verdes; e os backhands de topspin, vermelhos. No aplicativo de vídeo você também pode selecionar apenas golpes específicos que queira visualizar (por exemplo, backhands de slice) e ele irá direto para esses momentos.

Melhor ainda é a possibilidade de selecionar duas batidas e colocá-las lado a lado para uma comparação. O sistema permite também ver em slow motion para uma melhor compreensão dos golpes e, caso queira, com ajuda de outro aplicativo da Sony, montar uma série de imagens sequenciais de uma batida selecionada.

Outra funcionalidade interessante é a que mostra o seu progresso com determinado golpe. O aplicativo lista todas as sessões de treino ou jogos feitas e coloca uma barra de mínimo e máximo, além de apontar a média, nos três quesitos analisados: efeito e velocidades do swing e da bola. Aqui você pode ver como tem sido a evolução dos seus golpes e pode colocar uma meta de desempenho.

Por fim, a Sony ainda “capta” todos os golpes de todos os usuários no mundo e compila em uma página na internet onde você pode comparar os seus dados com os do mundo todo, divididos entre continentes, homens e mulheres, ver médias etc.

Tipos de análises

Muitas vezes, deparamo-nos olhando para o todo, para a imensidade de dados e números, e ficamos perdidos. Um bom conselho, portanto, é, primeiramente, partir para o detalhe, tentar analisar coisas específicas do seu jogo em pontos mínimos para depois compilar os dados e ver a evolução quando se olha para os dados gerais.

Ou seja, tente primeiro gravar seus treinos de saque, por exemplo, caso este seja um golpe que você quer melhorar. Comece treinando da mesma forma que sempre faz, mas gravando (se possível com vídeo) os golpes no sensor. Depois, tente identificar quais os possíveis problemas que podem estar comprometendo o seu golpe (talvez você precise da ajuda de um professor) no aplicativo. Digamos que, entre outras coisas, você tenha notado, através dos gráficos, que o ponto de contato dos seus saques não estão sendo ideais. Sem que você perceba, isso pode estar comprometendo o seu golpe e é preciso fazer os ajustes. No vídeo, compare dois saques, um em que o ponto de contato foi ideal e o outro em que isso não ocorreu. O que você fez de diferente?

Ou então, você pode estar pensando em gerar mais topspin em suas bolas de fundo. Grave o treino e veja qual a média de efeito dos golpes. Observe também a mínima e a máxima. Tente encontrar dois golpes diferentes para comparar, um em que o efeito gerado foi máximo ou perto disso e outro em que foi mínimo. O que você percebe de diferente nesses golpes? A velocidade do swing foi igual? A preparação? A terminação?

Analisando os detalhes e trabalhando primeiramente em cima deles, posteriormente fica mais simples olhar para a compilação de dados de várias sessões de treino e depreender se o seu jogo está evoluindo ou não em alguns aspectos técnicos. Invista, portanto, em dividir as sessões de treinos (use as marcações do aplicativo) para poder ter uma análise melhor.

Apesar de poder ser usado sem ajuda de ninguém, o mais interessante do Smart Tennis Sensor, definitivamente, é quando usado como ferramenta de auxílio de treinos entre professor e aluno. Nesse momento, ele se torna um “gadget” realmente importante, pois, além de dar uma resposta em tempo real, também cria uma compilação de dados que mostrarão a evolução dos treinos. Então, se o problema é falta de topspin nas batidas, professor e aluno poderão identificá-lo, tentar solucioná-lo e ver se está tendo resultado na mesma hora de forma acurada.

“Mas e no jogo?”. Analisar uma partida de tênis não é tarefa simples para ninguém. Há milhares de variáveis para serem analisadas. No entanto, o Smart Tennis Sensor também pode ajudar. Para isso, o mais interessante é, além de fazer a gravação do jogo (em vídeo de preferência), vincular os dados do sensor a um scout de cada ponto. Assim, você poderá ver, por exemplo, não apenas que tipo de golpe resultou em um ponto seu, mas todos os detalhes desse golpe (ponto de contato, spin e velocidade) que fizeram com que ele lhe desse a vantagem sobre seu adversário. Ou seja, em uma análise minuciosa, você poderá, por exemplo, descobrir que não basta bater no backhand do seu oponente para “machucá-lo”, é preciso que as batidas tenham um coeficiente X de topspin e velocidade.

Ou seja, as possibilidades são muitas, pois os dados, apesar de parecerem poucos em um primeiro momento, vão se acumulando com uma voracidade que não dá tempo sequer de piscar. Essas raquetes inteligentes certamente serão cada vez mais comuns e os aplicativos também ganharão em precisão e novos recursos. O futuro já está na quadra. Mas precisamos saber como tirar proveito da tecnologia.

Arnaldo Grizzo

Publicado em 20 de Dezembro de 2016 às 13:11


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