Mental

A ilusão de estar sempre melhorando

Você acha que precisa melhorar sempre? Fazer algumas pausas e aprender tudo do começo pode fazer muito bem ao seu jogo


Luiz Pires/Fotojump

HOUVE UM TEMPO EM QUE PENSAVA que meu jogo só poderia, e iria, piorar. Joguei "à sério" quando juvenil e atingi o ápice dos meus "poderes" durante a faculdade. Porém, aquilo foi o fim da linha do tênis "sério" na minha vida. As demandas do trabalho semanal drenaram qualquer ambição que tinha de viajar para os torneios. Entre a vida no escritório e a vida social em minha nova casa, Nova York, tinha a "competição" de que precisava. E o fato de a hora de aluguel de quadra ser US$ 100 na cidade também não ajudava.

Ainda assim, mesmo sabendo que algum declínio era inevitável, tive problema em aceitar isso quando tinha meus 20 e poucos anos. Surpreendentemente, não foram força e velocidade que "caíram" primeiro, mas a consistência. Conseguia colocar meus saques e meus golpes de fundo nos mesmos lugares, com uma velocidade bem próxima de quando estava no auge da forma. Contudo, comecei a "produzir" batidas estranhamente pouco familiares. Topspins de backhands caiam apaticamente no meio da rede sem razão aparente. Quando era forçado a sair da quadra, não conseguia mais alcançar a bola e bater um forehand na paralela. Meu golpe antes caia dentro das linhas da quadra; agora, a mesma bola desviava para a direção oposta, para o corredor de duplas ou mais longe ainda. Pior mesmo era sofrer para derrotar jogadores que, pelo menos na minha memória - ou seria apenas minha imaginação -, eu teria varrido da quadra facilmente no passado. Nos meus piores momentos, após ter mandado uma bola que bateu no aro para o alambrado, minha vontade era gritar ao meu oponente: "Você não sabe que eu era bom, sabe?"

Depois de uma década desse tormento, comecei a fazer as pazes com meu novo "eu tenístico". Tive de aceitar que os erros bisonhos eram feitos por mim mesmo, e não um impostor patético. Não adiantava somente dizer para os meus oponentes que eu era melhor do que eles; o fato de eu perder para eles tinha de contar para algo. Não é surpresa que eu tenha começado a desfrutar mais do jogo desde a época da faculdade.

Nessa época, associei-me a um clube de verão perto de minha casa no Brooklyn onde havia cinco boas quadras de hartru. Então, meu tênis estava con nado aos meses quentes de verão do nordeste norte-americano. Pegava minha raquete em abril e deixava ela em novembro. Uma agenda que, em princípio, parecia limitante, provou-se libertadora, na verdade. O resultado é que estava melhorando novamente. Ou, ao menos, era assim que sentia.

Em cada abril, começava minha rotina. Alongava as pernas, tentava me lembrar de seguir esses pequenos conselhos: levar a raquete para trás com antecipação, seguir o movimento do saque com o corpo. "Não adianta, eu sou horrível". Cada golpe era pouco familiar. E, então, gradualmente, depois de algumas semanas de drills de golpes de fundo e jogar regularmente com meus amigos, eu atingi algum nível de competência. Em ns de junho, estava fazendo coisas que achava que tinha esquecido, como acertar aces no T e saltar para trás para bater smashes complicados. Cada elemento do meu jogo parecia uma descoberta, algo aprendido pela primeira vez.

Tênis, em sua concepção original, era um jogo de verão, e ele permaneceu dessa forma durante os anos 60. O antigo circuito amador norte-americano seguia seu caminho pela Costa Leste até Forest Hills perto do Dia do Trabalho. Fazia sentido: o verão ganhou uma ressonância tão profunda em mim agora que estava intimamente ligado ao tênis. Mas esses meses de inverno faziam parte do processo também. Essa é a época do descanso mental e antecipação, de lembrar de um bom golpe em um dia ensolarado e de saborear o pensamento de uma nova primavera que virá. Mais importante, não há pressão - não preciso car melhorando sempre. A ilusão de sempre melhorar, não é isso o que todos os tenistas pedem?

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Steve Tignor

Publicado em 24 de Outubro de 2011 às 07:26


Instrução - Mental

Artigo publicado nesta revista