Ao longo da estrada

As 20 lições que o circuito pode ensinar

Futures e Challengers possuem ensinamentos valiosos a tenistas e seus treinadores


Poucos ambientes podem ser mais ricos em aprendizado que o circuito. Uma atmosfera composta de jogadores e técnicos, confrontos e práticas, em que o tênis atinge sua maior densidade. A imersão nesse universo torna-se reveladora a cada dia, mostrando suas regras próprias, suas tendências e suas manifestações. O tênis se expressa em sua forma mais crua, deixando lições e ensinamentos para serem cultivados.

A seguir, alguns traços desses dias “on the road” que tivemos durante a temporada passada principalmente.

1. As partidas possuem um forte equilíbrio, mesmo quando existe uma diferença de ranking entre os jogadores. Abre-se assim oportunidades para ambos os lados para obter o domínio do jogo. Muitas vezes, o jogador mais bem classificado é quem capitaliza essas oportunidades, apenas por estar mentalmente mais preparado para isso. Enquanto um reluta, o outro aproveita. Não é uma grande jogada, ou um diferencial tático, apenas o conhecido dilema entre o medo de ganhar e a certeza da vitória.

2. Por mais redundante que seja, disciplina, entrega e principalmente fazer mais que os outros, ainda é o melhor combustível para a confiança em tempos de poucas vitórias.

3. Uma sequência de partidas ganhas cria uma atmosfera de emoções positivas no jogador e o coloca em contato com o que ele tem de melhor. O contrário seguramente tem o efeito inverso. Traçar uma linha de equilíbrio acima de resultados pode ser o melhor resultado conjunto obtido entre o treinador e seu pupilo.

4. O que acontece fora da quadra vai influenciar o jogador. Produzir um ambiente descontraído, passar bons momentos, é imprescindível e saudável. Deve-se ter algo fora do tênis que transmita emoções positivas e serenidade.

5. Jogadores não são cavalos de corrida, são humanos e possuem suas idas e vindas. Paciência é o maior bem para superar momentos de desencontros. É muito importante saber dar um passo para trás e dar espaço.

6. Todos possuem uma história e uma trajetória, por isso nunca deve-se permitir comparações com outros jogadores e sim consigo próprio e com o melhor que se pode ser.

7. Técnica é um dos parâmetros que mais podem enganar ao se avaliar um jogador. Partidas e grandes resultados geralmente são conquistados com boas decisões e muito coração.

8. O vínculo humano entre o treinador e o jogador é mais importante que os aspectos técnicos. Uma relação com qualidade em princípios e que não está atrelada a resultados constitui uma base sólida para se enfrentar o circuito.

9. A realização do treinador não está nos resultados pontuais e sim na aquisição sistemática de transformações por parte do jogador. Deve-se entender como um “processo”. O tenista que entende sua atividade no horizonte do longo prazo se libera de boa dose de pressão e cobrança.

10. A parte financeira ainda é o maior fantasma que assola jogadores. Muitos conseguem reverter essas dificuldades em fontes positivas de motivação, mas sempre há um desgaste. Muitos perecem por razões econômicas.

11. A melhor maneira de se encarar o circuito ainda é a de manter baixos níveis de expectativas e se concentrar no que realmente se pode interferir. Ganhar depende de muitos fatores que o jogador e seu treinador não possuem o menor controle: o nível de tênis do adversário e como ele se apresentará, a arbitragem, a sorte, fatores externos ao jogo... Enfim, quando se abandona aquilo que não se pode dominar, fica mais fácil voltar-se para o que realmente se pode controlar: a correta preparação e o próprio comprometimento. Seguir dessa maneira melhora o foco, evita pressões desnecessárias e conserva a mente do jogador no presente.

12. Jogadores que estão tendo uma boa temporada, com muitas vitórias, muitas vezes não estão fazendo nada a não ser esperar a ansiedade e o medo de ganhar do adversário. Há um limite em que deixa-se de jogar tênis para jogar com o emocional de quem está do outro lado.

13. Uma companheira (esposa, namorada etc) pode ser mais forte que qualquer treinador, ou filosofia de trabalho, quando se refere ao poder de interferir em uma carreira.

14. A Europa ainda é o cenário em que se joga um melhor nível de tênis. Vivenciar isso é imprescindível para o jogador entender seu próprio panorama de atuação e se situar profissionalmente.

15. Uma equipe de jogadores possui um poder estrondoso dentro do circuito, mas gerenciar as relações internas é tarefa incrivelmente complexa.

16. Ter pernas fantásticas ainda é melhor que ter um golpe extraordinário.

17. As rotinas de prevenção e o trabalho junto aos fisioterapeutas são vitais e podem garantir muitos anos de tênis à carreira de um atleta.

18. Jogadores veteranos do circuito são duplamente perigosos e fontes maravilhosas de conhecimento e experiência. Ainda existe muita ignorância que despreza esse conhecimento e não valoriza adequadamente esses tenistas.

19. Pode-se aprender muito conversando com treinadores, vendo jogos e dialogando com outros jogadores. Mas nada se compara a reavaliar continuamente os passos e decisões que foram tomados.

20. Como diria Fernando Pessoa, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A temporada termina e novos desafios se aproximam. É preciso estar bem preparado.

Elson Longo

Publicado em 18 de Março de 2016 às 18:50


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